quarta-feira, 29 de agosto de 2018


Gn 3,15: uma leitura junguiana


Nesta perícope bíblica, quatro versos do poema mitológico bíblico, configuram-se os cinco arquétipos junguianos formadores da essência do cristianismo: Self (Jesus, a linhagem); Mulher (Maria, a persona); Serpente (Sombra); Animus (o filho), Anima (serpente).

Desse modo, fazendo-se uma exegese do fragmento mítico descobriremos o sentido objetivo do texto para o cristianismo, ou seja, ele é sua essência (homo + ousia), texto de igual essência, isto é, texto-fundante da religião ocidental, o cristianismo.

Uma leitura fundamentalista sobre este fragmento textual cria uma falsa interpretação. Gerando o que se conhece na crítica textual como hipostasia, ou melhor, um sentido novo deformado para reafirmar uma falsa realidade do sentido original. De modo que todo equivoco lhe advém de uma leitura equivocada sobre a tradução de São Jerônimo. Argumento infundado e hipostático. Pois o uso do pronome no feminino (pisará "ela" ou "ele" ou ipsa em vez de ipsum) não se refere propriamente à Mulher, Maria, mas ao feminino de Linhagem, Jesus que pisa à cabeça da serpente. Ipsa (linhagem) conteret (pisará). Este é o argumento de acusação e calúnia que uma hermenêutica fundamentalista estabelece sobre o fragmento de Gênesis em relevo.

Jerônimo convenceu Santo Agostinho de que, na elaboração da Vulgata, a tradução melhor seria se fosse direto da fonte (o hebraico) o que o fez. Assim, não há motivo para hipostasiar. E o que se hipostasia já é uma incoerência de um resultado preconceituosos e de má fé.

O Gn 3,15 foi produzido historicamente no Reino de Salomão por volta do ano 930 a.C. Aí, então, está posta a fundação antecipada do cristianismo. Este texto é discurso divino (divindade javista) e sua temática é a salvação do povo cristão, suas ferramentas psicológicas arquetípicas do processo de individuação junguiano e do proposto e confirmado nos sinóticos.

O texto Gn 3,15 é um poema épico que conta a saga do povo cristão. O gênero literário é o mito da fundação do cristianismo que traz como tema a "a redenção cristã" ou apresenta o cristianismo como religião redentora.

Este discurso javista proposto ou elaborado por Deus, como seu autor principal, tem um desenvolvimento convencional na ordem textual: possui uma introdução, o pecado; um desenvolvimento, o castigo, a saga e a conclusão, a redenção ou salvação do povo cristão.

Neste aspecto residem os arquétipos junguianos ou ferramentas para a redenção ou comunhão entre consciência/inconsciente simbolizados na Mulher/Serpente: perdão/pecado, entre a culpa e a graça.

Portanto, Gn 3,15 significa o protoevangelho, ou seja, a primeira literatura do cristianismo.